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Autora: Francielly Alexandra Jorge

Colaboradores: Carolini C. Valle, Júlio M. Retzlaff

A dislexia é um distúrbio neurolinguístico que pode atingir a fala e a escrita. Envolta por uma nuvem de preconceitos a “cegueira de palavras” tem explicação científica e tratamento. Esse trabalho abrange aspectos médico-sociais dessa doença tão cheia de paradigmas que pode atingir até 15% da população mundial.




Introdução

Também conhecida como “cegueira de palavras” ou “surdez de palavras”, a dislexia é um distúrbio antes de tudo de ordem neurológica. Há um grande preconceito que rodeia esse mal. Crianças afetadas por essa doença podem presenciar inúmeras humilhações tanto na vida escolar quanto familiar.É válido salientar que esse é um problema geralmente genético, ou seja, se há precedentes familiares existe uma possibilidade de transmissão dessa característica.

Dislexia

Dislexia. Fonte: http://educaforum.blogspot.com/2010/05/dislexia-no-brasil-alguma-solucao.html

Diferenciar a dislexia de outros distúrbios de aprendizagem é importante. Muitos deles não tem qualquer ligação com processos fisiológicos, mas sim são de ordem puramente psicológica, social e afetiva. Diversas crianças podem não se desenvolver da forma correta na escola porque não recebem o estímulo adequado, ou por passarem por situações de trauma/estresse. Esse não é o caso da dislexia. Embora não se tenha ainda cura, a dislexia possui sim tratamento, medida essa que pode reduzir em até 80% dos inconvenientes que essa doença trás. Esse tratamento engloba uma equipe multiprofissional formada por médicos, fonoaudiólogos, psicólogos e psicopedagogos que, trabalhando juntos, podem fazer com o indivíduo tenha uma vida normal.

Dislexios Famosos 1

Famosos Disléxicos. Fonte http://toziblog.blogspot.com/2010/06/realidades-da-sobre-dislexia.html

Encoberta por uma série de conceitos que, derivam muitas vezes de mitos, essa é uma desordem que trás muita curiosidade. Diversas personalidades importantes como Albert Einstein, Walt Disney, Charles Darwin, Franklin D. Roosevelt e Pablo Picasso, entre outros, eram disléxicos. Há muitos que dizem que, por haver uma disfunção neurológica, os disléxicos se vêem obrigados a usar partes alternativas do cérebro, de forma que desenvolvem inteligência extraordinária. A despeito disso quebra-se o rótulo que alguns colocam sobre os disléxicos como sendo pessoas pouco inteligentes.


Aspecto Neurológico

O cérebro humano é responsável por uma série de importantes funções no organismo. É ele quem rege essa imensa orquestra que é o corpo humano. Esse órgão foi subdividido em regiões a fim de melhor entender as diferentes funções que realiza. Existem áreas que se associam para a realização de diversas “tarefas” de forma a combinar informações provenientes das mais variadas regiões do córtex. Por isso, esse local é chamado de Área Associativa. A figura a seguir demonstra a região Parieto-occipitotemporal, um dos componentes da área associativa. É aí que encontram as principais partes responsáveis pelo desenvolvimento da neurolinguistica, a área de Wernicke é a mais relevante para o caso de um tipo de dislexia.

Dislexia cerebro

Fonte: Guyton e Hall, capítulo 57, pagina 717

A chamada de área de Wernicke, a qual se envolve, sumariamente, no entendimento da linguagem em si está relacionada a um tipo de função intelectual superior. Isso porque se entende que a linguagem é responsável por boa parte do desenvolvimento dessa habilidade. Um problema que afete esse local cerebral resulta em um tipo diferente de dislexia mais relacionado a uma incapacidade de entendimento da palavra propriamente dita. Ou seja, pessoas que tenham um distúrbio nessa localidade cerebral podem entender a palavra falada, ou até mesmo escrita, mas não compreendem o significado que elas contêm. Já o dito giro angular, local que está na região inferior do lobo parietal (mostrado na figura), por exemplo, é uma parte importante responsável pela interpretação da forma visual da palavra. Como se pode ver na figura abaixo, ele se encontra entre os lobos temporal, occipital, e temporal. É a partir daí que a leitura é concretizada da maneira escrita sedimentando o significado das palavras as quais passam a ser mais que um “conjunto de letras” do alfabeto. Sabe que disfunções nessa região podem estar intrinsecamente relacionadas ao problema aqui discutido, a dislexia. Nesse caso, o indivíduo também pode ver a palavra, e saber que, por exemplo, no jornal existem muitas palavras, mas não sabe o que elas querem dizer, não há uma concretização da grafia com um conjunto de significados, como se fossem apenas uma sopa de letrinhas desconexas.

Sem título

Guyton e Hall, capítulo 57, página 721.

Como se pode facilmente entender, o ser humano, em suas fases iniciais de desenvolvimento, amadurece intelectualmente de forma gradativa. Assim, as regiões aqui citadas como partes importantes para a aquisição da habilidade de leitura e escrita, estão presentes nesse processo. Entre, aproximadamente, as idades de quatro a seis anos, há o aprimoramento da parte mais visual das palavras. Nesse estágio, a criança já consegue transcrever algumas palavras, sem entender muito que elas dizem. Podem copiar, por exemplo, o seu nome que a mãe escreveu no papel (copiam, mas só sabem que é nome porque a mãe falou). Já entre cinco e sete anos, a capacidade de compreensão sonora da leitura começa a se exibir. Há uma ligação dos sons das palavras com o significado que elas venham a ter. Por exemplo, a criança começa a entender que se juntar as sílabas es+co+la se formará a palavra escola e ela entenderá o significado dessa grafia (nessa fase a compreensão começa a ser adquirida). E, até os nove anos de idade, esse processo intelectual se consolidará com o aprimoramento da capacidade de leitura, fluente e compreensível. Aqui, a criança é capaz de ler em voz alta na sala de aula de forma ininterrupta e inteligível para si e para quem ouve. Resumidamente, algum processo que, venha a atrapalhar o desenvolvimento de qualquer um desses estágios de forma concreta, no próprio desenvolvimento do sistema nervoso, pode desencadear um tipo de dislexia.

Genética

O peso que a genética pode ter sobre a determinação do caráter disléxico é ainda estudado e pesquisado por cientistas. A recomendação é a de que se deve, caso haja algum parente próximo que sofra do problema, como mãe ou pai, procurar um especialista que analise a criança mesmo antes de aparecerem possíveis indicadores do problema. Dessa forma, o tratamento pode ser iniciado de forma rápida e efetiva a fim de evitar muitos problemas que a criança possa ter tanto na vida escolar como social.

Lkj

Genética. Fonte: www.insa.pt/sites/INSA/Portugues/AreasCientificas/Genetica/Paginas/inicio.aspx

Problemas em cromossomos, especialmente o seis, que possui o gene DCD2 (que pode, supostamente, estar envolvido em até 20% dos casos de dislexia) e 15, com os genes DYX1, DYX2 e DYX4 parecem estar relacionados as mais variadas dislexias. O aparecimento, inclusive de características de rompimento de circuitos cerebrais, podem se manifestar graças a esses defeitos cromossomais. Muitos estudos foram feitos e ainda são realizados por importantes centros, como a universidade de Yale, nos Estados Unidos e pela revista britânica “Journal Of Medical Genetics”. Esse seria um bom sinal para os acometidos por esse mal demonstrando que há interesse pelos fatores desencadeantes da doença.


Como perceber

De acordo com a Sociedade Brasileira de Dislexia (ABD) existem inúmeros “sinais de alerta” que indicam que uma criança possa estar sofrendo de dislexia. Como esse problema pode se manifestar de maneiras diferentes é importante que, tanto os pais, quanto os professores fiquem atentos. Se aparecem problemas na linguagem escrita, ortográfica, na leitura, sem que se tenha indicativos de outros problemas, como sociais e familiares, pode-se estar diante de uma criança disléxica.

Dislexia abd

dislexia Fonte: http://www.dislexia.org.br/

Mas não é só isso. A dislexia pode ainda se manifestar pela dificuldade em se lidar com os números e por problemas de memorizar situações de curto prazo. Existe, ainda, o disléxico que não consegue manter um pensamento organizado, nem mesmo realiza tarefas intelectuais mais difíceis. Por vezes, a percepção espacial, trocas entre direita e esquerda podem estar presentes. Estes são apenas alguns dos fatores que, só para citar algumas das mais diversas situações, podem existir. Vale salientar, que, geralmente, essas crianças se apresentam como muito espertas e inteligentes, a despeito de problemas no âmbito escolar. Chega-se a ouvir muito a seguinte máxima “mas ele é um menino tão esperto, não entendo como não consegue aprender a ler e escrever”. Caso a dislexia não seja tratada corretamente na infância ela pode levar consigo muitas características para a vida a adulta de forma que essa doença não se limita à faixa etária das crianças.

Diagnóstico e tratamento

Ao perceber as características já citadas, com as peculiaridades que devem ser levadas em questão, deve-se, o quanto antes, procurar confirmar o diagnóstico e então iniciar o tratamento. Atualmente, equipes multidisciplinares é quem são as responsáveis pela tentativa de se ajudar no desenvolvimento dessas crianças. Composta por psicólogos, psicopedagogos e médicos, faz-se a chamada, segundo a ABD “avaliação multidisciplinar e de exclusão”. Nesse processo, a criança é analizada por uma série de exames a fim de excluir outros possíveis diagnósticos. Ela passa, por exemplo, nas mãos de um médico oftalmologista a fim de analisar se há um problema de visão que possa estar correlacionado ao déficit de aprendizagem. Confirmada a dislexia o tratamento deve prosseguir de acordo com as particularidades de cada pessoa. O acompanhamento pelos profissionais citados é fundamental. Além disso, uma boa explanação a respeito dessa desordem para os familiares e professores é fundamental. O disléxico, em geral, possui uma capacidade imensa de se superar nas mais diversas situações e, com a ajuda correta, na hora certa, ele consegue se desenvolver. Os resultados são graduais e progressivos e devem ser muito bem observados pelo profissional que deve sempre estimular e reestimular o paciente tanto em avanços já conquistados como naqueles que ainda estão por vir (pelo dito sistema multissensorial e cumulativo utilizado pela ABD

Conclusão

A lei brasileira garante direitos diferenciados para os disléxicos, como a de realizações de provas especiais que venham a corresponder com as necessidades especiais dessas pessoas. Escolas e universidades devem estar preparadas para recebê-los. Por isso a informação em todos os aspectos é essencial para uma boa convivência com a dislexia. O mais importante diante de tudo é confirmar para o disléxico que ele, apesar das dificuldades, pode levar uma vida normal. Sabe-se que as diversidades que ele venha a passar podem marcá-lo com os mais terríveis traumas e assim, prejudicar toda uma existência. É necessário compreender, portanto, que, embora a dislexia seja um problema ainda pouco esclarecido e um tanto quanto complexo ela não é um veredicto de inabilidade intelectual ou exclusão.

Referências Bibliográficas

  1. GUYTON-ARTHUR C., HALL - John E., Tratado de Fisiologia Médica, São Paulo: Saunders Elsevier, 11 edição, 2006.
  2. MACHADO Angelo, Neuroanatomia funcional, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte: Atheneu, segunda edição, 2009.
  3. MORAIS, Antonio Manuel Pamplona, Distúrbios da aprendizagem : uma abordagem psicopedagógica, São Paul : Edicon, 8 edição, 1996.
  4. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISLEXIA. Dislexia - Definição, Sinais e Avaliação. Disponível em http://www.dislexia.org.br/. Acesso: 9 nov. 2010.
  5. MAIA, Felipe, Causa da dislexia é genética, apontam especialistas. Disponível http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u334708.shtml. Acesso: 9 nov 2010.
  6. CAMPOS, Shirley, Cientistas encontram chave genética da dislexia, Disponível em http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias/17730. Acesso: 9 nov 2010
  7. MARTINS, Vicente, Dislexia e o projeto genoma humano. Disponível em http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/spdslx05.htm . Acesso: 9 nov 2010.
  8. FARIAS, Antonio Carlos, Dislexia – Aspectos Neurológicos, disponível em http://www.neuropediatria.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=91:dislexia--aspectos-neurologicos&catid=58:dislexia&Itemid=147. Acesso: 9 nov 2010
  9. FOLHA DE SÃO PAULO ON LINE. Confira lista com 15 disléxicos famosos.Disponível http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u334709.shtml . Acesso: 9 nov 2010
  10. RUBINO, Rejane, Sobre o Conceito de Dislexia e Seus Efeitos no Discurso Social.Disponível em http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-71282008000100007. Acesso 9 nov 2010.

Links Relacionados

  1. Associação Brasileira de Dislexia - http://www.dislexia.org.br/
  2. Pequeno Príncipe, Neuropediatria - http://www.neuropediatria.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=91:dislexia--aspectos-neurologicos&catid=58:dislexia&Itemid=147
  3. Sobre o Conceito de Dislexia e Seus Efeitos no Discurso Social - http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-71282008000100007
  4. Dislexia, Aspectos Gerais - http://www.dislexia.com.br/
  5. Dislexia Treatment Center - http://www.dyslexiatreatment.com/
  6. Portal da Dislexia - http://www.dislexia-pt.com/


--Francielly jorge 01h40min de 2 de dezembro de 2010 (UTC)

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