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Autora: Morgana Longo

Colaboradores: Bárbara Brandi Gomes, Caroline Garcia Lira e Tamara Marques Ziliotto.


Definição

Na postura padrão, a coluna é composta por quatro curvaturas (regiões cervical, torácica, lombar e sacral) que se distribuem de forma ideal para sustentar o peso, permitir a locomoção e o bom funcionamento dos órgãos respiratórios, equilibrar a cabeça, proteger a medula espinal. Em outras palavras, postura correta é quando o eixo da coluna vertebral encontra-se em harmonia com o corpo; permitindo assim que a coluna exerça suas funções com a máxima eficácia.  No entanto, desvio de coluna é uma alteração que ocorre no alinhamento da coluna vertebral, e que, dessa forma, provoca um esforço e uma sobrecarga maior sobre as articulações, o que altera a eficiência das funções. 

Anatomia

Segundo Keith Moore, a coluna vertebral é uma estrutura composta por 33 vértebras que são unidas por determinados componentes. Ela estende-se do crânio até o ápice (parte mais alta) do cóccix. No adulto, o comprimento da coluna pode variar de 72 a 75 cm.

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Fonte: NETTER, Frank H.. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.


Tipos de Desvios

Os tipos de desvios de coluna abordados a seguir são cifose, lordose e escoliose.

A cifose, também chamada de dorso curvo e popularmente conhecida como corcundez, é caracterizada pelo aumento anormal da curvatura torácica. A coluna apresenta aspecto arqueado, devido ao seu curvamento posterior.


A lordose é definida como o aumento anterior da curvatura na região lombar. Ela está relacionada com a obliquidade pélvica.


A escoliose (do grego skolios = torto) é caracterizada pelo desvio da curvatura lateral juntamente com a rotação dos corpos vertebrais. A localização da curva é determinada pela localização do seu ápice, podendo ser cervical, cervicotorácia, torácica, toracolombar, lombar, lombossacra. Já a extensão da curva é definida pela vértebra terminal.


O método mais utilizado para determinar medidas de curvaturas (escolióticas, lordóticas, cifóticas) é o de Cobb. A técnica de Cobb, de uma maneira mais simples, consiste na mensuração do ângulo da curva através de imagens radiográficas.

Dados Epidemiológicos

Na população geral, a incidência de escoliose é em torno de 10 a 13,6%. Já a frequência de cifose é entre 0,5 e 8%; há certa variação até significativa entre os números, pois a cifose pode demorar a ser evidente em alguns casos, logo é difícil obter uma estimativa mais exata. 

No Brasil não há muitos dados estatísticos referenciados sobre desvios de coluna. Na Zona Norte de São Paulo, foram analisados 120.000 exames, e obteve-se uma incidência em que 10 a 11% das crianças possuíam algum tipo de desvio. Também no estado de São Paulo, foi realizada outra avaliação postural, em 247 alunos, na qual a incidência de cifose torácica foi de 9,7%; enquanto que, a de hiperlordose lombar foi quase o triplo (26,3%).

Causas

As curvaturas anormais são causadas devido a anomalias congênitas (malformações adquiridas pela criança na gestação), processos patológicos, hábitos de postura viciosa, traumatismos. Podem também ser idiopáticas (quando a causa é desconhecida).

A cifose torácica pode originar-se de osteoporose, osteocondrose espinhal (Scheüermann), maus hábitos posturais, traumas. Acredita-se também que possa resultar de deformidade multifatorial. 

A lordose lombar pode surgir devido ao enfraquecimento da musculatura, para compensar deformidades de quadril, em decorrência da obesidade. Em mulheres, a curva lordótica pode aumentar devido ao uso excessivo de salto alto, a práticas frequentes de dança (como o Balé); e também pode aumentar temporariamente na gravidez.

A maioria dos casos de escoliose é idiopática, correspondendo a aproximadamente 80%. A escoliose idiopática pode ser originada na infância (até 3 anos de idade), na fase juvenil, ou na adolescência. Os outros casos podem ser decorrentes de miopatias, osteopatias, alterações funcionais ou posturais. Se for de origem miopática, a escoliose pode ser subdividida em neurológica (paralisia cerebral) e miogênica (distrofias). Quando causado por doenças ósseas, o dorso sinuoso pode ter caráter infeccioso, inflamatório, tumoral, congênito (Síndrome de Ehlers-Danlos), traumático, metabólico. No caso de escoliose funcional, essa alteração pode decorrer da assimetria dos membros inferiores; e a postural, como o nome mesmo sugere, é a curvatura anormal causada por hábito postural impróprio.

É importante também ressaltar que a cifose e a lordose podem estar ao mesmo tempo relacionadas devido a movimentos compensatórios de adaptação. Essa situação ocorre quando uma curvatura surge em função da outra. Existe também a associação da cifose com a escoliose, chamada cifoescoliose, é uma doença rara, causada normalmente por doença congênita.


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Descrição: Imagem Radiográfica da Escoliose Fonte: http://www.sciencephoto.com/media/266521/view

Diagnóstico

O diagnóstico dos desvios de coluna pode ser feito através de exame clínico, exame neurológico, exame radiográfico.

No exame clínico, o médico para detectar uma curvatura anormal da coluna vertebral, examinará o indivíduo em pé (descalço) de frente com o intuito de observar à simetria, o nivelamento dos ombros, a posição das escápulas, o formato da cintura. Depois com a pessoa de lado, o médico examinará o perfil da coluna vertebral para identificar se há curvatura dorsal ou lombar aumentadas. Em seguida, o médico irá analisar a capacidade de flexão e assimetrias do dorso com o paciente flexionado para frente.

Existe também um exame de fácil realização, chamado teste de Adams ou teste do um minuto, que evidencia, no início, casos de escoliose mais graves.

No exame neurológico são analisados se a pessoa apresenta sinais e sintomas, como reflexo, equilíbrio, dor, adormecimento, sensação nas extremidades e função motora, espasmo muscular, alterações nos intestinos e/ou na bexiga.

Já o exame radiográfico da coluna vertebral permite identificar a existência de desvios e a medir o alinhamento das curvaturas da coluna. O método de Cobb, como descrito anteriormente, é o mais referenciado para quantificar essas medidas. O índice de Risser também é importante, pois permite avaliar a maturidade esquelética através da imagem radiográfica do paciente. Em alguns casos específicos são feitos também ressonâncias magnéticas, tomografias computadorizadas e cintilografias ósseas.

Tratamento

Os tratamentos dos desvios de coluna são baseados no grau de curvatura, idade do paciente, deformidades vertebrais.

No tratamento não cirúrgico da cifose são indicados exercícios físicos de extensão da coluna, fisioterapia para casos de dorso curvo com menos de 50º Cobb, coletes para determinadas curvaturas. Os coletes de Milwaukee são indicados para casos com curvatura menor que 70º Cobb, já os coletes gessados são usados quando há deformidades rígidas e com mais de 70º Cobb. Contudo, a intervenção cirúrgica é indicada para pacientes adultos por motivos funcionais, estéticos, dolorosos; é realizado normalmente em situações que a curva é maior que 80º Cobb.

A lordose pode ser tratada clinicamente com exercícios físicos de reabilitação, fisioterapia para fortalecer a musculatura, coletes para controlar a evolução. Quando a lordose é causada pela obesidade, aconselha-se emagrecer para a correção ser mais eficaz.  Já o tratamento cirúrgico é realizado em casos de curvatura grave, que possam ter envolvimento neurológico, ou quando o tratamento clínico não foi suficiente.

O tratamento da escoliose pode ser clínico ou cirúrgico, dependendo da situação de agravo do paciente. No tratamento clínico, são indicados exercícios físicos, fisioterapia (Reeducação Postural Glogal – R.P.G), coletes, estimulação elétrica. Os coletes são indicados especialmente quando o grau de escoliose aumenta com uma determinada frequência. O colete mais usado é de Milwaukee, devido a sua eficácia na correção postural e por ser mais prático que o Colete de Gesso. Há também o Colete de Boston ou órtese toracolombossacra (OTLS), que é indicado para casos de escoliose menos grave, ele possui melhor aceitação para esse público por ser mais discreto no dia-a-dia. Quanto à realização de estimulação elétrica da coluna vertebral, há dois métodos utilizados: o canadense e o americano. A técnica consiste em colocar eletrodos embaixo ou superficialmente a pele que por estimulação elétrica induzem a coluna vertebral a permanecer ereta. Para adultos, dependendo da causa de escoliose, podem também ser indicados sapatos com salto e sola aumentados com o objetivo de compensar a assimetria.


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Fonte: http://www.sciencephoto.com/media/100602/view

O tratamento cirúrgico da curva sinuosa é utilizado quando o grau de Cobb é maior ou igual a 50 graus, quando há comprometimento da função pulmonar, quando existem motivos estéticos, quando as dores são persistentes mesmo com tratamento clínico, quando a escoliose evolui mesmo com tratamento conservador, quando há presença de sintomas neurológicos. Na operação cirúrgica as vértebras são fundidas para interromper o movimento anormal da coluna, essa cirurgia é denominada de artrodese vertebral.




Prevenção

Para uma coluna saudável é necessário cuidar dos hábitos, como praticar exercícios físicos, fazer alongamento, cuidar da postura, desde a infância. Trata-se de uma questão de base cultural que visa prevenir desvios de coluna quando causados, principalmente, por maus hábitos posturais.

A promoção e prevenção dos desvios posturais devem ser enfatizadas especialmente para crianças, pois é nessa fase que existe a possibilidade de aplicar exercícios corretivos para erradicar ou amenizar o desvio. É importante incentivar as crianças a fazerem exercícios físicos sob a orientação de um profissional, a sentarem e dormirem de maneira correta. Os pais devem prestar atenção na maneira como os filhos carregam a mochila escolar e se o peso da mochila é adequado com o peso que a criança pode suportar.

Já para adultos e idosos é importante evitar o sedentarismo e a obesidade com a prática de exercícios físicos, e também cuidar dos hábitos posturais para preservar uma postura adequada. As atividades do dia-a-dia que exigem esforços da coluna devem ser analisadas, pois determinadas ações podem ser prejudiciais. É importante, principalmente para as mulheres, cuidarem da prevenção da osteoporose. 

Referências Bibliográficas 

1. KENDALL, F.P.; MCCREARY, E.K.; PROVANCE, P.G. Músculos: provas e funções. 4ed. São Paulo: Manole, 1995. p. 71-82, 121-129.

2. MOORE, K.L.; DALLEY II, A.F.; AGUR, A.M.R. Anatomia orientada para a clínica. 6ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. p. 436-478.

3. COHEN, M.; MATTAR JR, R.; JESUS-GARCIA FILHO, R. Tratado de ortopedia. São Paulo: Toca, 2007. p. 147- 159.

4. PORTO, C.C. Semiologia Médica. 3ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997. p. 898- 900.

5. KNOPLICH, J. Endireite as costas: desvios da coluna, exercícios e prevenção. 5ed. São Paulo: IBRASA, 1989. p. 60-118.  

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9. LEMOS, A.T.; SANTOS, F.R.; GAYA, A.C.A. Hiperlordose lombar em crianças e adolescentes de uma escola privada no Sul do Brasil: ocorrência e fatores associados. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csp/v28n4/17.pdf. Acesso em 20 nov 2012.

10. JOÃO, S.M.A. Avaliação Postural: Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional. Disponível em: http://www.fm.usp.br/fofito/fisio/pessoal/isabel/biomecanicaonline/complexos/pdf/Postura.pdf. Acesso em 20 nov 2012.

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Links Relacionados

1. Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia. Disponível em: http://www.into.saude.gov.br/.

2. Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Disponível em:  http://www.portalsbot.org.br/public/index.php.

3. Saúde e Medicina. Disponível em: http://www.saudemedicina.com/.

4. Projeto Escoliose Brasil. Disponível em: http://www.projetoescoliose.org/.

5. Tratamento de Coluna. Disponível em: http://www.tratamentodecoluna.com.br/website/.

6. Jornal de escoliose. Disponível em: http://www.scoliosisjournal.com/content.

7. Cifose. Disponível em: http://medical-dictionary.thefreedictionary.com/kyphosis.

8. O QUE é lordose?. Disponível em: http://www.vertebrata.com.br/o-que-e-lordose.

Vídeos

1. Escoliose. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?feature=fvwp&v=XAKVoQT_sqM&NR=1.

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