Editora: Meline Bannach
Colaboradores: Gabriela Bernardi; Suélen Gasparin
A acne é a doença de pele mais problemática para a população brasileira, sendo citada por 56% dos entrevistados em uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) (NEVES, 2009, p. 12). Apesar de geralmente regredir sem maiores conseqüências, a acne pode deixar graves cicatrizes e influenciar negativamente o estado psicológico, refletido no desgosto por ter acne, ansiedade, frustração e insatisfação quanto à aparência física e medo de que a doença nunca acabe (RIBAS et. al., 2008, p.524). São problemas que se tornam enormes quando se está na adolescência, e é justamente nesta fase da vida que a acne costuma surgir e apresentar seus piores quadros.
Pele
Para entendermos a acne, é interessante sabermos um pouco mais sobre o órgão que ela afeta. A pele é o maior órgão visível do corpo humano, constitui cerca de 16% do peso corporal. Ela possui funções importantes, como evitar a perda de água por evaporação (dessecação) e proteger contra o atrito. Além disso, através de suas terminações nervosas, este órgão comunica-se constantemente com o meio externo e auxilia na manutenção da temperatura adequada para o bom funcionamento do organismo (JUNQUEIRA, 1999, p. 303).
As camadas da pele
A pele possui três camadas: a epiderme, a derme e a hipoderme. A epiderme é a camada mais externa. Ela possui espessura e estrutura que variam conforme a área do corpo, sendo mais complexa e espessa na planta do pé e palma da mão, e mais fina e simples em outras regiões do corpo. É a camada responsável pela impermeabilidade da pele, fazendo com que a água não evapore através da superfície corporal.
A derme é um tecido conhecido como tecido conjuntivo em que a epiderme se apóia. Nesta camada encontramos vasos sanguíneos e linfáticos, nervos e estruturas que derivam da epiderme: os pêlos, as glândulas sebáceas e sudoríparas e as unhas.
Por fim, a camada mais interna da pele é a hipoderme. Esta camada faz com que a pele possa deslizar sobre as estruturas na qual se apóia, unindo-se frouxamente aos órgãos subjacentes (JUNQUEIRA, 1999, p. 303, 305, 309).
Glândulas Sebáceas
Determinadas estruturas específicas da pele são utilizadas para a realização de suas funções. As glândulas sebáceas, por exemplo, atuam na proteção através de suas secreções oleosas ou sebo. Elas são influenciadas por hormônios sexuais. Quando as secreções tornam-se excessivas, estas glândulas podem propiciar o aparecimento da acne (GUYTON, HALL, 2006, p. 1005). As glândulas sebáceas encontram-se na derme e possuem ductos que irão se abrir na parte final do folículo piloso (do pêlo). Elas possuem vários compartimentos delimitados, os alvéolos, que desembocam em um ducto curto. Quando as células epiteliais externas dos alvéolos se multiplicam e se modificam, elas enchem os espaços alveolares de gotículas de gordura (lipídios). Além disso, a secreção irá conter ainda as próprias células mortas que a originaram, por isso dizemos que as glândulas sebáceas são do tipo holócrinas (holos = total; crina=secreção). A secreção é, então, constituída de vários lipídios (gorduras), como triglicerídios, colesterol e ácidos graxos livres (JUNQUEIRA, 1999, p. 311).
Acne
A acne é uma dermatose de predisposição genética, ou seja, a probabilidade de você apresentar a manifestação cutânea é maior se seus pais a tiveram. Também tem relação importante com as modificações hormonais, e outros fatores como o estresse, ansiedade, depressão, algumas doenças (como síndrome do ovário policístico) e certos medicamentos (NEVES, 2009, p. 13). As principais formas de acne são a acne vulgar e a acne rosácea (FAUCI et. al., 2008, p. 319).
Acne Rosácea
A acne rosácea é uma doença inflamatória que afeta principalmente a região central da face. Ela acomete adultos (é rara em indivíduos com menos de 30 anos), principalmente mulheres, porém é mais grave quando ocorre em homens.
Caracteriza-se por eritema (vermelhidão) facial, telangiectasia (dilatação anormal dos vasos sangüíneos) e pústulas superficiais. Não há presença de comedões (cistos) e dificilmente atinge o tórax ou dorso. Quadros com maior evolução podem causar rinofima (hiperproliferação de tecido conjuntivo no nariz) e doenças inflamatórias oculares (FAUCI et. al., 2008, p. 320).
Acne Vulgar
A acne vulgar atinge principalmente adolescentes e adultos jovens. Consiste na formação de pequenos cistos (denominados comedões) nos folículos pilosos, principalmente na face, tórax e dorso. Estes cistos aparecem quando o orifício folicular é obstruído com a secreção da glândula sebácea presente na pele. O sinal clínico típico da acne vulgar são os comedões, que podem ser abertos (cravos negros) ou fechados (cravos brancos). Os comedões abertos dificilmente produzem lesões inflamatórias, ao contrário dos fechados, que são os precursores das lesões de acne vulgar. Os comedões são acompanhados de lesões inflamatórias como pápulas, pústulas ou nódulos (FAUCI et. al., 2008, p. 319).
Bactérias chamadas de Proprionobacterium acnes também estão envolvidas na formação da acne. Elas liberam ácidos graxos livres do sebo que irão causar inflamação dentro do cisto e destruirão sua parede. Esta reação é semelhante ao que ocorre quando temos algum corpo estranho invadindo a pele, por isso há reação inflamatória. Em seguida, há a liberação da secreção do cisto formada por sebo e queratina (proteína da camada superficial da pele) (FAUCI et. al., 2008, p. 319). Em resumo, os fatores que desencadeiam a acne são a hiperprodução de sebo glandular, a hiperqueratinização folicular, a colonização bacteriana folicular e liberação de mediadores da inflamação no folículo e derme adjacente (COSTA et. al., 2008, p. 452). Clinicamente, a acne é classificada em quatro níveis (RIBAS et. al., 2008, p. 521).
Grau I: a forma mais leve, não inflamatória (ou comedoniana), caracterizada pela presença de comedões (cravos) fechados e abertos;
Grau II: acne inflamatória ou papulopustulosa, em que, aos comedões, se associam pápulas e pústulas de conteúdo purulento (pontos amarelos de pus);
Grau III: acne nódulo-cística, quando se somam nódulos mais exuberantes, dolorosos e inflamados;
Grau IV: lesões comunicantes (acne conglobata), nas quais há formação de abscessos e fístulas. Muita inflamação e aspecto desfigurante.
Por que na adolescência?
Doença típica de adolescente, a acne aparece em 85% deles. É mais freqüente em meninos (70%) do que em meninas (60%). Elas apresentam o problema mais cedo, iniciando em geral aos 14 anos. Eles demoram mais para ter “espinhas” (em torno dos 16 anos), mas por outro lado apresentam as piores formas do problema (RIBAS et. al., 2008, p. 521). Há artigos científicos que informam idades ainda menores do início da acne: 11 anos para as meninas e 12 anos para os meninos (COSTA et. al., 2008, p.451).
Mas por que a acne surge nesta fase? A resposta está nas alterações hormonais, que aumentam a produção de sebo pelas glândulas sebáceas após a puberdade. É na adolescência que nosso corpo se expõe pela primeira vez a quantidades elevadas de hormônios. O hormônio masculino testosterona, por exemplo, aumenta a espessura da pele dos meninos e também a taxa de secreção de grande parte das glândulas sebáceas do corpo. Por isso é que eles sofrem mais com a acne. Já o hormônio feminino estrogênio, faz com que a pele das meninas adquira uma textura macia e lisa, ainda que não tão macia quanto a pele que ela tinha quando criança (GUYTON, 2006, p. 1005, 1018).
Tratamento
Mesmo não atingindo graus de maior gravidade, a acne afeta a qualidade de vida dos pacientes. Quando ocorre acne cicatricial grave, os efeitos podem ser irreversíveis e profundos. Portanto, a intervenção terapêutica é indicada precocemente nos casos graves (FAUCI et. al., 2008, p.320). Os casos mais leves podem ser controlados com fármacos de ação local. A isotretinoína é um remédio controlado utilizado para tratar a acne. Possui ação anti-seborréica, ou seja, combate o excesso de sebo diminuindo a produção de gordura na pele (NEVES, 2009, p. 13). Deve ser usado somente para o tratamento de casos severos de acne resistentes a outras formas de tratamento. Apresenta inúmeros efeitos adversos, por isso exige acompanhamento com médico capacitado. A principal preocupação ao tomar o medicamento é o aparecimento de deformidades no feto, caso a paciente em tratamento engravide. Por isso, até mesmo um termo de consentimento deve ser assinado por ela.
As meninas também podem controlar a acne com o uso de anticoncepcionais. Vale lembrar que o efeito depende da composição da pílula, pois os hormônios similares à progesterona podem agravar o quadro (NEVES, 2009, p. 13). De qualquer maneira, você deve procurar um dermatologista para avaliar qual é o melhor tratamento para o seu caso e jamais iniciar o uso de medicamentos sem indicação médica.
Links Relacionados
- Sociedade Brasileira de Dermatologia [1]
- Dermatologia. net [2]
Referências
COSTA, Adilson et. al. Fatores etiopatogênicos da acne vulgar. Anais Brasileiros de Dermatologia, São Paulo, v. 83, n. 5, p. 451-459, 2008.
FAUCI, Anthony S. et. al. Harrison Medicina Interna. Acne. 17 ed., Rio de Janeiro: Mc Graw Hill Interamericana do Brasil, 2008. v.1, cap. 53, p. 319-320.
GUYTON, Arthur C; HALL, John E. Tratado de fisiologia médica. Fisiologia feminina antes da gravidez e hormônios femininos. 11. ed, Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. cap. 81, p. 1018.
GUYTON, Arthur C; HALL, John E. Tratado de fisiologia médica. Funções reprodutivas e hormonais masculinas (e função da glândula pineal). 11. ed, Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. cap. 80, p. 1005.
JUNQUEIRA, L. C., CARNEIRO, José. Histologia Básica. 9. ed, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. cap. 18, p. 303-314.
NEVES, Daniela. Espinhas: se você não teve, ainda vai ter. Gazeta do Povo, Curitiba, 25 out. 2009. Caderno Viver Bem, p. 12-14.
RIBAS, Jonas et. al. Acne vulgar e bem-estar em acadêmicos de medicina. Anais Brasileiros de Dermatologia, v.83, n.6, p. 520-525, 2008.